O consumidor de classe média, com rendimento mensal máximo de R$ 3 mil, trabalhou até ontem (20 de maio) para pagar os impostos exigidos pelos governos federal, estadual e municipal. Nos cinco primeiros meses deste ano, a arrecadação tributária corresponderá a aproximadamente R$ 400 bilhões. De acordo com estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), até o fim de 2009 os brasileiros terão comprometido 40,15% do seu rendimento bruto com o pagamento de tributos diretos e indiretos, considerando a renda média dos trabalhadores.
Os dados revelam que, dos 12 meses do ano, o cidadão passa, em média, 147 dias trabalhando apenas para arcar com toda a carga tributária brasileira. Quem tem rendimento mensal entre R$ 3 mil e R$ 10 mil, trabalha 156 dias e, acima dessa faixa, 152 dias. Em comparação com outros países, os brasileiros trabalham 50% mais que mexicanos, argentinos e chilenos. O IBPT constatou também que, para pagar os tributos, hoje se trabalha o dobro do que na década de 1970, quando os impostos "cobravam" 76 dias de trabalho dos brasileiros.
Nas ruas – Para os paulistanos, os impostos dificultam a quitação de outras dívidas. "É um absurdo. Se não pagássemos tanto para os governos, poderíamos ficar mais tranquilos e gastar com uma viagem, por exemplo", afirmou o segurança Humberto Procópio, que na tarde de ontem passava perto do Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que marcava R$ 388 bilhões em tributos. "É muito dinheiro."
Na próxima segunda-feira, 25 de maio, o painel eletrônico atingirá a marca de R$ 400 bilhões em arrecadação tributária. "É um recorde", afirmou o estudante de direito Thiago Augusto. "Pelo jeito, o Brasil continua sendo o país do imposto. Se todo esse dinheiro fosse realmente destinado à melhoria de serviços públicos, eu não me importaria em pagar. Mas não vejo melhoria em nada", acrescentou.
Para o casal Felipe Gregório e Débora Oliveira, os tributos sempre geram muitas dúvidas. "Nunca sabemos ao certo quanto estamos pagando. Somos cidadãos pagadores de impostos, mas não ganhamos benefícios. O pior de tudo é não encontrar uma escola pública de qualidade para a nossa filha", afirmou Gregório, acompanhado da pequena.
Ajustes – No entanto, em 2009, houve leve queda do comprometimento da renda do brasileiro, de 40,51% para 40,15%. O presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, atribuiu a diminuição à redução do Imposto de Renda da pessoa física e de tributos sobre o consumo. "Neste ano o brasileiro irá trabalhar 147 dias; em 2008, trabalhou 148", afirmou.
Ele destacou que há outros países onde se trabalha mais para pagar impostos, como Suécia (185 dias) e França (149 dias). Já Espanha (137 dias) e EUA (102 dias) vêm depois do Brasil no ranking de maiores cargas tributárias.
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