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Fique de olho: inflação no Brasil beneficia ações de alguns setores e empresas

Em novembro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo),

Em novembro, o IPCA  (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medida oficial de inflação avaliada pelo Banco Central, avançou 0,83% em relação ao mês anterior. Foi o maior índice mensal desde abril de 2005 e o acumulado do ano está em 5,25%, acima dos 3,93% referentes a igual período de 2009 e acima também do centro da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 4,5% ao ano.

A inflação tomou fôlego nos últimos meses, impulsionada principalmente pelo preço dos alimentos, que também contribuíram para avanços de outros índices, como o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado). "Todos os indicadores inflacionários divulgados no último mês apresentaram tendência de alta, sendo que grande número superou o teto das estimativas do mercado", apontou o HSBC em relatório sobre a estratégia recomendada  para a renda variável em dezembro. 

Assim, a instituição optou por sugerir aumento do peso em ações voltadas para o mercado interno, principalmente em setores que possuam proteção contra a inflação. No entanto, resta a dúvida sobre quais setores, especificamente, oferecem boa guarda para os investidores contra essa evolução dos preços. 

Concessões oferecem proteção

Para Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC, oferecem boa proteção contra a inflação aqueles setores cujos contratos têm reajuste indexado a algum índice de inflação, como IGP-M ou IPCA (ou mesmo uma mescla dos dois), e cuja demanda tenha pouca sensibilidade a uma alta dos preços. 

Um exemplo são as concessões rodoviárias. A CCR Rodovias, por exemplo, repassa anualmente a variação da inflação que reajusta os contratos de concessão ao pedágio. No entanto, esse aumento de preços altera pouco a demanda, já que é pouco provável que as pessoas deixem de utilizar as rodovias por causa de uma alta do pedágio ou mesmo que produtores de soja, por exemplo, não mais transportem a safra das plantações para os portos. "Como a sensibilidade é baixa, esse é um hedge quase perfeito contra a inflação", aponta Nunes. 

Também os serviços públicos, como distribuição de energia e de gás, por exemplo, oferecem proteção contra a alta dos preços, embora não sejam tão perfeitos, na opinião de Nunes, já que o reajuste dos contratos depende também de variáveis como ganho de produtividade ou necessidade de aumento dos investimentos. "Esses segmentos têm pouca elasticidade em relação à demanda e conseguiriam proteger bem uma carteira em caso de pressão inflacionária", analisa o estrategista de renda variável do HSBC. 

Também de olho no tema, a Link Investimentos inclui em sua carteira recomendada para dezembro as ações da Comgás (CGAS5), principalmente porque as margens de distribuição são atualizadas pelo IGP-M, que até a medição de novembro acumulava no ano um avanço de 10,56%. 

BofA sugere temas alternativos para defesa contra inflação
Tema Papel Ticker
Infraestrutura AES Tietê GETI4
  EcoRodovias ECOR3
  CCR CCRO3
  OHL OHLB3
  Tractebel TBLE3
Commodities CSN CSNA3
  Vale  VALE5
Consumo AmBev AMBV4
  BR Malls BRML3
  Iguatemi IGTA3
  Natura NATU3
Bancos Itaú Unibanco  ITUB4
  Banco do Brasil BBAS3
  Bradesco BBDC4

Aluguéis

Para o Bank of America Merrill Lynch, que também enxerga as ações como uma ferramenta para hedge contra o risco inflacionário, além das concessões os shopping centers também são um bom exemplo, pois estes estabelecimentos reajustam os aluguéis em função do IGP-M. Assim, entre as alternativas citadas pelo banco norte-americano estão BR Malls (BRML3) e Iguatemi (IGTA3). 

A São Carlos (SCAR3) é outra companhia ajudada por esse movimento, deslocando-se do cenário previsto para as incorporadoras.“O aluguel de seus imóveis está indexado ao IGP-M. Assim, quanto maior a perspectiva de inflação, mais positivo para os ganhos de caixa. Isto tem ajudado muito a companhia”, diz a equipe de análise da corretora Coin.

Ainda segundo o Bank of America, fazem parte da estratégia produtores de commodities, principalmente por causa da perspectiva de alta para as matérias-primas no próximo ano, com aumento da demanda e excesso de liquidez por causa do afrouxamento monetário promovido pelo Fed nos Estados Unidos. O BofA cita ainda empresas que tenham posição de liderança no mercado, o que lhes garante capacidade de precificação dos ativos. 

O caso da AmBev

A AmBev é um dos exemplos escolhidos pelo BofA e uma empresa também citada por Carlos Nunes, do HSBC. O setor de bebidas, explica Nunes, deveria ser, em tese, prejudicado por causa da inflação, já que sofre com o custo do aumento do açúcar e outros produtos e até mesmo com o avanço do preço do alumínio, utilizado em embalagens. 

No entanto, com o ganho real de renda, com reajustes dos salários acima da inflação, a companhia consegue repassar custos sem que isso provoque sensibilidade da demanda. Estratégias internas, como a utilização de vidro nas embalagens, por exemplo, também são acertos da administração da empresa que contribuem para que não haja previsão de diminuição de margens, além da estratégia de crescimento sólida da companhia também contribuir para a visão positiva que Nunes faz do papel. 

Quem evitar

Por outro lado, apesar do aumento real de renda do brasileiro, segmentos supérfluos têm sensibilidade um pouco maior. Os alimentos ainda representam parcela significativa dos gastos dos indivíduos com menor poder aquisitivo. Quando os preços dos alimentos sobem, sobra menos dinheiro para gastos com vestuário e bens secundários. "As varejistas que são mais expostas a classes mais baixas, como Lojas Renner (LREN3) e Marisa (AMAR3), sofreram um pouco mais com essa realização de mercado", aponta o estrategista. Isso ocorreu também porque são companhias que já acumulavam valorização expressiva no ano, então investidores aproveitaram para realizar os lucros obtidos. 

O Bank of America ainda sugere que se evite companhias muito endividadas e companhias cuja relação entre preço e lucro seja muito alta e cujas perspectivas estejam baseadas em elevadas taxas de crescimento no longo prazo. Para Carlos Nunes, também é hora de preterir setores que sofram com as consequências de uma alta da inflação: o iminente aperto monetário. 

Com o aumento dos depósitos compulsórios e outras medidas para restringir o crédito tomadas pelo Banco Central no dia 3 de dezembro, cerca de R$ 61 bilhões foram enxugados da economia, o que, de acordo com estimativas do time de economistas do HSBC, tem efeito equivalente a uma alta de 50 pontos base da taxa básica de juros. "Já houve aperto significativo, outros aumentos poderão vir, então aqueles setores mais sensíveis à curva de juros também reagem negativamente no curto prazo", ressaltou Carlos Nunes. 

Aí estão incluídos principalmente os bancos, pois sempre que há aumento dos juros ou do compulsório as instituições do setor sofrem porque aumenta o custo de captação e prejudica-se o crescimento e a rentabilidade do banco. O setor de construção civil, por disputar financiamentos de longo prazo com os bancos, também é prejudicado em suas perspectivas de crescimento. Nunes ressalta que não é que o crescimento não irá ocorrer, mas as estimativas são reduzidas um pouco e, ao menos no curto prazo, são temas a evitar, conclui. 

Vale ressaltar, no entanto, que o BofA avalia que a alta da inflação protege o retorno sobre ativos dos bancos de varejo, e por isso optou por os inclui na lista de temas protegidos contra o aumento dos preços.