Essa queda de 10 pontos percentuais no desejo de prevenir eventuais incertezas ficou mais evidente após a crise global, quando o governo expandiu o crédito e incentivou o consumo, favorecendo principalmente as classes C, D e E. O aumento do emprego e de renda não teve a contrapartida do aumento da poupança. As pessoas que começaram a viver com um pouco mais de fartura tinham desejos reprimidos por bens duráveis — como geladeira e televisão, entre outros — e foram às compras.
De acordo com a Fecomércio-RJ, em 2009, o Brasil apresentou a menor taxa de poupança entre 24 nações pesquisadas, ao lado apenas da Turquia, com cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB). Em outros países emergentes, com papel crescente no cenário internacional, a situação é diferente: a poupança na China é de 54,5% do PIB; na Índia, de 31,4%; na Argentina, de 24%; e no México, de 21,7%. O mau hábito brasileiro, a longo prazo, pode gerar sérios problemas. “O governo gasta muito e mal, com a criação de cargos e carreiras, em vez de investir no setor produtivo”, reafirmou Travassos.
“O problema é que a ânsia de consumo dos brasileiros é assustadora. Nem sequer chegamos a novembro e já pensam como gastar o 13º salário. Não ouço a palavra poupar”, disse Adriano Gomes, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
A pesquisa mostrou também que os poucos que seguraram parte do salário querem continuar com a prática a curto prazo. Em julho de 2010, 83% declararam a intenção de manter a poupança, ou até guardar ainda mais dinheiro, contra 80%, em igual mês de 2006. Os que mexeriam nas economias caíram de 9% para 5%.
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