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Dólar a R$ 1,776 renova chance de MPEs exportarem

Nesses últimos dois anos, mais de 2.300 micros e pequenas empresas deixaram de exportar, por conta dessa qualidade cambial desfavorável.

Com a escalada do dólar nas últimas semanas, chegando, ontem, à maior cotação em mais de um ano, R$ 1,776, os empresários de pequeno porte que deixaram de exportar por conta do câmbio desfavorável terão a oportunidade de retornar a esse filão. Para o economista e consultor internacional, Alcântara Macedo, o novo patamar estimula que esses empreendedores voltem as atenções ao exterior, mesmo com empecilhos, como a crise que incomoda as economias europeias e americana.

 

"Nesses últimos dois anos, mais de 2.300 micros e pequenas empresas deixaram de exportar, por conta dessa qualidade cambial desfavorável. Agora, elas já podem pensar em regressar. Isso é bom porque você não deixa o mercado apenas com as grandes exportadoras. O País precisa desses menores", avalia.
 
As de tamanho superior, afirma, também estavam sofrendo com a moeda do Tio Sam valendo algo em torno de R$ 1,50. "Essas sobrevivem mais facilmente, no entanto, reduzem a capacidade de venda", diz.
 
Mercado interno
 
Segundo ele, muitos pequenos negócios têm se sustentado com base apenas no potencial de consumo dos próprios brasileiros. "É claro que o mercado interno fortalecido sempre ajuda, mas o ideal é você ter outras opções para destinar seus produtos. Até porque você não sabe até quando vai esse aquecimento".
 
De acordo com a coordenadora do Programa de Internacionalização de Negócios do Sebrae no Ceará, Marta Campelo, esse tipo de empresa tem se retraído no Estado, diante do cenário internacional inóspito. "Quando eles (empresários) veem essas condições de complicação, desistem de vender para fora e se apoiam apenas no mercado interno, que está muito aquecido. Mas esse dólar caro estimula", analisa, afirmando que a cotação de R$ 2,00 é tida como ideal para o segmento.
 
Bom para a indústria
 
Outro setor que tende a tirar proveito do ganho de valor da moeda estadunidense é a indústria. O setor, que tem apresentado ritmo de expansões rasteiro, avalia o câmbio muito baixo como um dos entraves ao crescimento mais elevado.
 
Consumidor na contramão
 
Na contramão dos efeitos do dólar apreciado, comenta Alcântara Macedo, está o consumidor brasileiro. Aqueles que pretendem viajar para o exterior têm a perder com a desvalorização do real, enquanto o turista estrangeiro poderá chegar ao Brasil em condições mais favoráveis. "Isso afeta somente aqueles que têm potencial de renda suficiente para fazer uma viagem internacional. É uma fatia pequena da população", diz.
 
Importadores
 
As indústrias nacionais que necessitam de máquinas de outros países também arcam com impactos negativos. Macedo, porém, afirma que essas consequências não serão tão fortes a ponto de causar grandes problemas. "Aqueles que estão importando equipamentos para se tornarem competitivos vão pagar um pouco mais caro, mas nada que seja muito significativo no fim das contas".
 
Horizonte
 
Para Macedo, o horizonte da moeda norte-americana vai depender muito das próximas decisões do governo de Barack Obama. Segundo ele, a proximidade do processo eleitoral pode trazer medidas que venham a influenciar toda a economia global. "Os gastos públicos do americano foram para a estratosfera nos últimos anos. Gastou-se muito para manter guerras. Houve também o problema imobiliário que causou a bolha em 2008. Todos esses fatores convergiram pra que o dólar não seja uma moeda tão forte como há dez anos", comenta.
 
Apreciação continua
Cotação ganha 11% em 30 dias; a maior desde julho/10
 
São Paulo. As tensões decorrentes da crise europeia chegaram com força ao mercado de câmbio. O dólar iniciou a semana com alta de 2,54%, valendo R$ 1,776, cotação mais alta desde 21 de julho de 2010. Nos últimos 30 dias, o real apresenta a maior queda ante o dólar no ranking com as 16 principais moedas do mundo. Algo que, segundo analistas, indica que atitudes recentes do governo brasileiro também têm influenciado o humor dos investidores.
 
Esse levantamento revela que as perdas da moeda brasileira já alcançam 11,01% no período, ante 11% do franco suíço. Vale lembrar que o governo da Suíça adotou recentemente um piso para sua moeda, fato que explica grande parte da desvalorização. A seguir, com 6,23% de perdas, aparece o peso mexicano e, com 6,05%, o rand da África do Sul.
 
Busca por segurança
 
Uma prova de que a crise global novamente tem levado a um movimento de busca por segurança é que apenas o dólar da Nova Zelândia acumula valorização ante seu par dos Estados Unidos - mesmo assim, de 0,68% nos últimos 30 dias. Em geral, situações como a atual provocam um movimento conhecido como fuga para a qualidade (ou flight to quality, na expressão em inglês).