Grande parte dos executivos financeiros e contábeis brasileiros já ouviu, pelo menos uma vez, que um dos grandes desafios da migração ao IFRS é a exigência de uma mudança cultural. No padrão internacional, como dizem especialistas, a “essência prevalece sobre a forma”. Em outras palavras, as demonstrações estarão carregadas de subjetividade, fruto da interpretação dos executivos. Segundo especialistas, surge, então, a necessidade de que decisões contábeis polêmicas ou controversas sejam tecnicamente documentadas. O objetivo de incluir mais esse processo no projeto de adequação e na rotina das demonstrações financeiras é, justamente, criar uma sólida base de dados para que o executivo possa explicar seu raciocínio em caso de questionamento por parte dos stakeholders. “Documentem de maneira contundente para mostrar que aquela foi a melhor decisão naquele momento, que aquela foi a decisão acertada”, recomenda o gerente contábil da Serasa, Sérgio Eduardo. Eduardo cita a Norma Internacional de Contabilidade 17 (IAS 17, na sigla em inglês) que dispõe sobre as operações de leasing. “Não há uma porcentagem a partir da qual se deve usar o dispositivo. A decisão vem da interpretação. A norma diz que, se a vida útil econômica do bem for substancialmente significativa, aí você ativa”. O presidente do Conselho Consultivo do IASB, Nelson Carvalho, tem a mesma visão e avisa que, com a migração, a contabilidade brasileira entra em um nova era. “Temos que esquecer regras de mínimos e máximos para começar a interpretar”. E, segundo ele, as mudanças começam no mundo acadêmico, antes mesmo da atuação nas empresas. “No mundo da educação contábil, precisamos ensinar a pensar”.