Um dos principais desafios de quem empreende é transformar a máxima “fazer mais com menos” em realidade. O que muita gente não sabe é que potencializar a eficiência (leia-se ter mais lucratividade usando menos recursos) pode ter menos a ver com investimentos em infraestrutura, produtos, profissionais; e mais a ver com aprender a fechar a torneira do desperdício, literal e figurativamente, no negócio.
Para despertar as micro e pequenas empresas para essa mentalidade, o Sebrae criou uma série de conteúdos e capacitações que ajudam quem empreende a atuar com mais sustentabilidade, reduzindo suas pegadas ambientais, sociais e econômicas, e aumentando a competitividade. Como bandeira, elegeu a eficiência energética e vem oferecendo materiais valiosos com linguagem acessível de modo gratuito em seu hub.
“Escolhemos esse tema porque quase a totalidade das empresas, independentemente do porte ou ramo de atuação, é movida à energia. Queremos evidenciar que práticas simples podem gerar impacto positivo nos caixas das empresas, além de ganhos reputacionais relevantes”, explica Juliana Ferreira Borges, coordenadora de Energia do Sebrae.
Adicionalmente, a iniciativa espera ajudar os pequenos negócios a formalizarem suas boas práticas para se adequar às exigências das grandes empresas, que muitas vezes contratam seus serviços. “As grandes corporações têm obrigação de reportar suas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) para seus acionistas, governos e sociedade. Por conta disso, elas devem garantir que todas as empresas com as quais se relacionam também tenham padrões ESG elevados. Quando um MEI ou microempresa documenta e comprova sua atuação sustentável, ganha mercado e novas oportunidades de negócio”, complementa Juliana.
Pousada sustentável
Na Rodovia Transpantaneira, a 10 km de Poconé, no Mato Grosso, e a 110Km de Cuiabá, está localizada a Pousada Piuval. O empreendimento de sete mil hectares foi fundado em 1989 pelo pai de Eduardo Eubank, atual gestor do local. Ele conta que, desde a fundação, os princípios de sustentabilidade nortearam as atividades no local, mesmo que o pai não tivesse ideia do significado da sigla ESG. “Para ele, era muito natural pensar no uso consciente dos recursos. O que eu fiz, ao assumir a gestão do local, foi documentar as boas práticas, sistematizar e aperfeiçoar o que fazíamos”, conta Eduardo.
Foi em 2007 que sua parceria com o Sebrae começou. Eduardo participou do programa Selo Bem Receber, que ajudava empresas de turismo a se adequarem às normas ambientais e de sustentabilidade. “Com isso, empresas estrangeiras, com alto grau de exigência ambiental, passaram a confiar no serviço que oferecíamos, aquecendo nossos negócios”, explica o empreendedor.
Desde então, a empresa realiza a coleta seletiva de lixo, faz o reaproveitamento da água da chuva, reusa águas cinzas (efluentes residuais de chuveiros, torneiras, máquinas de lavar, etc.), prioriza a mão de obra e os fornecedores locais e desenvolve um programa de proteção às onças que aparecem frequentemente na região. Tudo isso fez com que em 2017 a pousada vencesse o prêmio Braztoa de Sustentabilidade e conquistasse a certificação ambiental ABNT NBR 15401.
Lixo que transforma
A primeira vez que o administrador de empresas Thiago Abreu pensou seriamente sobre sustentabilidade e reaproveitamento de materiais foi na universidade, quando decidiu fazer seu trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre o tema. Anos depois, já casado com Camila Rocha, engenheira de alimentos, abriu uma hamburgueria sustentável. “Os resíduos eram reaproveitados em composteiras. As embalagens eram biodegradáveis, a água era reutilizada, mas começamos a sentir a pressão financeira, já que muitos dos componentes que usávamos eram muito mais caros do que os convencionais, encarecendo nossa prestação de serviços”, relata Thiago.
Paralelamente ao negócio abriram, em 2019, a Vilize – Vida Lixo Zero, e-commerce especializado em produtos artesanais feitos à base de upcycling (expressão em inglês para reutilização criativa de materiais), como bolsas, além de cosméticos naturais e outros. “Como empresários, sentíamos na pele a dificuldade de encontrar produtos ambientalmente responsáveis. Por isso, decidimos criar nossa marca e usá-la para disseminar o conceito de reaproveitamento e economia circular”, complementa Camila.
Thiago, então, fez o Bootcamp, uma capacitação do Sebrae voltada a quem quer redesenhar ou criar um modelo de negócio. Na sequência, cursou o Empretec, formação realizada também pelo Sebrae que utiliza a metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU) para potencializar as características e o comportamento do empreendedor.
Em 2021, o casal decidiu fechar a hamburgueria e atualmente administram a Vilize, realizam formações e consultorias sobre gestão do lixo e estão influenciando positivamente a pequena Pirapora, em MG, onde a empresa está sediada.
Faça a sua parte
Uma pesquisa publicada recentemente pelo Sebrae, intitulada “O engajamento dos pequenos negócios brasileiros às práticas ESG”, mostra que o tema já faz parte da vida dos empreendedores, mesmo que de modo inconsciente. “ESG é um conceito relativamente novo e está contido no tema responsabilidade social, econômica e ambiental. É uma maneira de comprovar as práticas sustentáveis das empresas para evitar a publicidade enganosa, o chamado greenwashing. Mas mesmo que o pequeno empresário não esteja familiarizado com a sigla, ele está sensibilizado para o tema”, pondera Juliana Borges. De fato. Segundo a pesquisa, 90% dos respondentes consideram importante ou muito importante reduzir os impactos ambientais ou proteger a natureza na gestão do negócio.
Para colocar o discurso em prática, é fundamental que cada empreendedor faça uma autoanálise e descubra quais são as práticas que drenam recursos e como melhorar a gestão de seus ativos, sempre levando em conta a sustentabilidade do negócio. Veja, a seguir, alguns aspectos que devem fazer parte de todo checklist de práticas sustentáveis. Eles foram baseados no curso EaD Aumentando a Lucratividade com Energia. “Vale destacar que a capacitação tem apenas duas horas, mas pode mudar a maneira de o empreendedor enxergar suas decisões de negócio, uma vez que aborda temas como eficiência energética, combate ao desperdício, além de dar dicas sobre como economizar energia em todos os âmbitos do negócio”, complementa Juliana.
Agora, confira as dicas ambientais, sociais e de governança para elevar os padrões de sua empresa e torna-la mais competitiva.
Sustentabilidade ambiental
- Realize a separação do lixo e resíduos para reciclagem;
- Reduza a quantidade de lixo e resíduos descartados;
- Combata o desperdício de alimentos;
- Reduza o consumo de água, energia e papel;
- Quando aplicável, diminua a emissão de poluentes e/ou de gases do efeito estufa.
Sustentabilidade social
- Incentive o desenvolvimento pessoal e profissional dos empregados por meio de programas de treinamento e formação;
- Ofereça um ambiente de trabalho saudável e seguro para seus funcionários;
- Combata a discriminação em todos os seus aspectos (como raça, gênero, orientação sexual, aparência, religião ou opinião);
- Valorize a diversidade no ambiente de trabalho (contrate pessoas com diferentes características de raça, gênero, orientação sexual ou pessoa com deficiência);
- Cumpra com todas as obrigações legais trabalhistas no que se refere ao pagamento de salários e benefícios.
Governança sustentável
- Separe as finanças do proprietário e as da empresa;
- Promova uma conduta ética e transparente na liderança;
- Pague seus impostos em dia, assim como taxas e encargos previstos na lei;
- Proíba a prática de pagamentos e recebimentos ilegais (vantagens, brindes, presentes etc.) que tenham como objetivo facilitar negócios ou influenciar pessoas e decisões;
- Realize a prestação de contas para as partes interessadas, pelo menos uma vez ao ano