Há cada vez mais mulheres gerando empregos no país. É o que mostra um novo estudo do Sebrae a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, e obtido com exclusividade pela EXAME. O número de mulheres empregadoras cresceu 30% entre 2021 e 2022. Entretanto, mesmo com esse aumento, a maioria das donas de negócio (87%) continua atuando sozinha em seus empreendimentos.
O levantamento aponta que ao longo de quatro trimestres consecutivos a proporção de mulheres que geram pelo menos um emprego aumentou de forma expressiva, enquanto o percentual de homens empregadores cresceu apenas 8%.
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Hoje, o Brasil tem 1,3 milhão de mulheres empregadoras em um universo de 10,3 milhões de empreendedoras. Entre os homens, são aproximadamente 2,9 milhões de empregadores, o que representa 15% do total de 19,7 milhões de donos de negócios. Enquanto as mulheres empreendedoras lideram entre as empresas com 1 a 5 empregados, os homens estão à frente entre os negócios com 51 funcionários ou mais.
Quais são os desafios das mulheres empreendedoras?
Renata Malheiros, coordenadora nacional de Empreendedorismo Feminino do Sebrae, afirma que empreender é difícil para todos, mas as mulheres enfrentam barreiras adicionais, de natureza cultural.
“São as crenças limitantes baseadas em estereótipos, passadas de geração em geração, e enraizadas desde a infância”, diz. “É o tal ‘isso não é coisa de menina, isso não é profissão de mulher, isso não é jeito de mulher falar’”. As dos meninos, ela pontua, são vinculadas aos sentimentos e não à carreira profissional, como “homem não chora”.
As mulheres também enfrentam obstáculos adicionais na carreira empreendedora, como na hora de ir ao sistema financeiro pedir dinheiro emprestado. “Já recebi algumas empreendedoras que me falam: tentei pegar um empréstimo para compra de uma geladeira ou outro maquinário para minha empresa e o gerente me perguntou se meu marido sabia que eu estava tomando aquele empréstimo, se poderia assinar comigo”, conta Malheiros. “Será que um homem empreendedor é questionado sobre isso?”
12 mulheres empreendedoras no Brasil para se inspirar
EXAME ouviu 12 mulheres empreendedoras de sucesso que compartilharam suas dicas de educação financeira para quem deseja empreender.
Para Patrícia Turmina, CEO e fundadora da Royal Trudel, acredita que perfil financeiro cauteloso ajudou a sobreviver à pandemia (Royal Trudel/Divulgação)
1. Patrícia Turmina, CEO e fundadora da Royal Trudel
Idade: 28
Há quanto tempo empreende: 7 anos
Quantidade de funcionários: 207 entre diretos e indiretos
Faturamento anual: R$ 30 milhões
“Viva sempre um andar abaixo do que pode viver. Nunca na ‘cobertura’, mas também nunca no porão. Esse é um conceito que aplico na pessoa física e que tento estender à pessoa jurídica. Sei que algumas empresas trabalham alavancadas, mas acredito que, para isso, o negócio precisa ter uma maturidade maior ou sócios mais propensos a risco. No nosso caso, acredito que só tivemos caixa o suficiente para sobreviver ao período de pandemia sem endividamento por termos um perfil cauteloso e conservador em relação ao dinheiro da empresa.”
2. Danyelle Van Straten, CEO Depyl Action
Idade: 46
Há quanto tempo empreende: 30 anos
Quantidade de funcionários: cerca de 100 colaboradores diretos
Faturamento anual: R$ 12 milhões
“Quando eu tinha 15 anos, minha mãe estava começando o negócio e não tínhamos dinheiro para produzir a cera. Então, o jeito foi vender primeiro, emitir boleto e descontar em agiota para então comprar matéria prima, produzir e entregar. Me lembro que parte do meu dia era dedicado a transformar pedidos em dinheiro. Depois dessa época, aprendi o que não deve ser feito: antecipar venda ‘come’ o lucro e você só trabalha correndo atrás do dinheiro. Dica é nunca, nunca, misturar pessoa física com jurídica.”
Adriana Auriemo, fundadora da Nutty Bavarian, recomenda trabalhar com um orçamento e efetuar compras orçadas, além de ir fazendo ajustes nesse planejamento sempre que for necessário (Nutty Bavarian/Divulgação)
3. Adriana Auriemo, fundadora da Nutty Bavarian
Idade: 48
Ha quanto tempo empreende: 27 anos
Quantos funcionários: cerca de 90
Faturamento anual: não informado
“Ter sempre em caixa o equivalente a pelo menos alguns meses de fluxo de caixa para segurar o negócio em uma eventualidade, e não misture as contas da pessoa física com as da pessoa jurídica. Trabalhe com um orçamento e efetue compras orçadas e realizadas mensalmente para saber se está indo pelo caminho certo e quais ajustes precisa fazer.”
4. Leticia Carvalho, franqueada da FarMelhor
Idade: 32
Há quanto tempo empreende: 2 anos
Quantos funcionários: 8
Faturamento anual: cerca de R$ 3 milhões
“Para começar um negócio, é preciso uma boa quantia inicial de dinheiro e é fundamental capital de giro, se não, o negócio não vai para frente. Principalmente em drogaria, que todos os dias entra dinheiro, Pix, cartão, então você pode pensar que está com dinheiro sobrando. Mas, ao mesmo tempo, todos os dias têm boletos, porque as compras são diárias, então é necessária muita organização financeira para girar o mês e não terminar com o caixa no vermelho.”
5. Andrea Miranda, cofundadora e CEO da STANDOUT
Idade: 51
Há quanto tempo empreende: 7 anos
Quantos funcionários: 30
Faturamento anual: entre US$ 1,5 milhão e US$ 2 milhões
“Em primeiro lugar, correndo o risco de estar falando obviedades, trabalhe com nota fiscal e mantenha todos os seus pagamentos de impostos e tributos corretos.
Sempre busque manter recursos livres para amparar o seu fluxo de caixa. Empresas grandes costumam pagar em 120, 160 dias após a entrega. Sem dinheiro em caixa para aguentar entre seis e oito meses, a empresária pode ter que abrir mão dos grandes contratos que financiariam o crescimento da empresa.”
Lívia Brandini, fundadora e CEO da Kultua, comenta que a gestão financeira bem-feita é fundamental para boas tomadas de decisões (Kultua/Marcio Pilot/Divulgação)
6. Lívia Brandini, fundadora e CEO da Kultua
Idade: 33
Há quanto tempo empreende: 3 anos
Quantos funcionários: 12
Faturamento anual: não informado
“Posso dizer que uma boa gestão financeira e contábil faz toda a diferença na governança da empresa, desde a fundação, para decisões de negócios assertivas. Desde o começo, cruzamos os conselhos que recebemos dos nossos mentores com os nossos dados acurados para tomada de decisão. Com isso, conseguimos dar passos maiores com recursos otimizados. Essa estrutura também nos ajudou na captação dos investimentos e due diligence, pois demonstrou profissionalismo e gerou confiança aos investidores.”
Diandra Ribas, cofundadora e COO da 3C Plus, se afastou do financeiro, o que diminui o ritmo de crescimento da empresa (3C Plus/Divulgação)
7. Diandra Ribas, cofundadora e COO da 3C Plus
Idade: 30
Há quanto tempo empreende: 8 anos
Quantos funcionários: 138
Faturamento anual: + de R$ 5 milhões
“Antes da entrada da atual liderança, o time e eu não tínhamos visibilidade do financeiro da empresa como temos agora. Isso ficava sob a responsabilidade do antigo sócio e o nosso foco ficava em outras vertentes. Por isso, o que sabíamos sobre saúde financeira e projeção da empresa era com base no que o antigo sócio nos passava. Por estarmos muito focados em outras áreas, nós achávamos que o cenário financeiro da empresa era bem negativo, e por isso nós ficamos estagnados por um bom tempo pensando que não era possível crescer tão rápido, contratar consultorias e investir de fato. Então, meu conselho é que se tenha pelo menos uma base de gestão financeira. Mesmo que você não seja a principal responsável, busque entender como está essa área da sua empresa e tenha uma base de conhecimento, isso é essencial.”
8. Márcia Capellari, sócia e diretora da Semente
Idade: 44
Há quanto tempo empreende: + de 10 anos
Quantos funcionários: 50
Faturamento anual: não informado
“A empreendedora precisa entender que há uma crença limitante das mulheres em relação ao dinheiro, mas que a gente precisa olhar para ele com uma relação de intimidade, diferente, precisamos atribuir um valor de sentido diferente para o dinheiro, e a partir disso, a gente não terceirizar a calculadora.”
Karina Rehavia, fundadora e CEO da Ollo, teve dificuldades, no começo, para separar os custos pessoais dos da empresa (Ollo/Divulgação)
9. Karina Rehavia, fundadora e CEO da Ollo
Idade: 43
Há quanto tempo empreende: 15 anos
Quantos funcionários: 20
Faturamento anual (estimado para 2023): R$ 25 milhões
“Comecei a empreender em 2008 e, sem dúvida, a minha maior dificuldade foi conseguir separar e organizar meus custos pessoais dos gastos da empresa. Aprender a como realmente fazer gestão financeira foi um grande desafio. Parece algo simples e tranquilo de fazer, mas, quando você precisa fazer gestão de pessoas, entregar as demandas, reter clientes e ainda administrar sua vida pessoal, é difícil acabar não misturando uma coisa com a outra. O caixa da empresa e a retirada financeira do empreendedor são coisas diferentes. É preciso saber separar e administrar da forma correta, tanto para empresas de uma pessoa só, quanto para quem tem mais colaboradores na equipe.”
10. Ariane Pelicioli, CEO e cofundadora da iUPay
Idade: 31
Há quanto tempo empreende: 13 anos
Quantos funcionários: 7
Faturamento anual: não informado
“É necessário um olhar profundo na necessidade de capital para desenvolver um negócio, entender como será a trajetória do negócio financeiramente, para conseguir atingir os objetivos esperados.”
Júlia Hueb, fundadora da Magnólia Papelaria, afirma que, mesmo não gostando da área financeira, a empreendedora precisa olhar para essa área (Magnólia Papelaria/Divulgação)
11. Júlia Hueb, fundadora da Magnólia Papelaria
Idade: 34
Há quanto tempo empreende: 5 anos
Quantos funcionários: + de 200 entre diretos e indiretos
Faturamento anual: R$ 28,8 milhões
“Na minha caminhada empreendedora o que mais aprendi é que independentemente de gostar ou não da área financeira precisamos sempre estar a par de tudo que acontece nesse setor da empresa. Conhecer todos os números e saber os momentos de apostar mais nas compras e os momentos de segurar mais a mão. Da mesma forma que não adianta a gente criar uma meta de venda e não ter estoque suficiente para bater essa meta, mas também não faz sentido estar com todo dinheiro da empresa ‘parado’ em estoque e você não conseguir ter giro de caixa suficiente para fazer boas negociações, comprar lançamentos e principalmente honrar com contas e estar preparados para imprevistos que podem acontecer.”
12. Ellen Fernandes, fundadora da Red Fitness
Idade: 39
Há quanto tempo empreende: 11 anos
Quantos funcionários: 76
Faturamento anual: R$ 6,5 milhões
“Minha dica seria separar a conta pessoal da empresa; realizar, se possível, todo o valor de investimento à vista; e mexer o mínimo no capital de giro para que não haja um futuro desencaixe financeiro.”