O ano de 2022 foi marcado por altos e baixos para diversos setores da economia brasileira. As companhias de bens de consumo sentiram o peso da perda do poder de compra dos consumidores. Já os resultados das empresas de turismo registraram recordes históricos no primeiro ano pós-pandemia. O que esperar em 2023?
No lado da macroeconomia, o cenário de inflação não deve ser muito melhor do que o de 2022. Na edição mais recente do relatório Focus, divulgada ontem (9) pelo BC (Banco Central), o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve encerrar os doze meses em 5,36%, em linha com os 5,6% estimados para 2022.
A taxa básica de juros, por outro lado, deve encerrar o período em 12,25% ao ano, na avaliação dos economistas, representando um alívio considerável em relação aos 13,75% vistos na taxa Selic hoje. Já o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) não será brilhante na avaliação do mercado, com uma expansão de 0,78% no acumulado do ano.
Apesar dos dados econômicos serem claros, eles são pouco palpáveis para o desenrolar do dia a dia dos brasileiros. Pensando nisso, a Forbes conversou com 20 empresários de diferentes setores que buscam trazer uma perspectiva do que é esperado para o ano.
Alimentação
Em 2022, a redução nas medidas de distanciamento contra o Covid-19 fez com que os consumidores voltassem a frequentar bares e restaurantes, após quase dois anos funcionando na base do delivery. Por outro lado, os preços dos alimentos subiram de forma drástica no período. A alta expressa nos índices de inflação é de 12% para esse item, muito acima da média do ano.
Apesar disso, para Domingos Neto, fundador do Grupo Bom Beef, 2022 foi um ano de realização de sonhos e 2023 promete ser ainda melhor. “Ao longo do ano, a nossa expectativa é abrir 30 restaurantes Bom Beef Parrilla em todo o Brasil.
Já em relação ao mercado de carnes, devemos ter ao menos 80 novas unidades no próximo ano”, diz Neto.
Nicholas Acquaviva, CEO da The Good Cop Donuts, também aposta na expansão de suas unidades para ampliar o alcance da marca. “O foco é continuar a expansão no estado de São Paulo e dar os primeiros passos em outros grandes estados”, afirma Acquaviva. “A nossa meta é terminar o ano com 100 unidades e com faturamento de R$ 50 milhões.” Acquaviva conta que há planos para aumentar a fábrica, criar novos cardápios, novas colaborações, eventos, e novos produtos do Good Cop além do Donut.
Alessandro Ávila, CEO do Grupo Alife-Nino, rede de bares e restaurantes que inclui as marcas Tatu Bola, Boa Praça, Eu, Tu Eles, Nino, Da Marino e Forno da Pino, afirma que a expectativa para 2023 é grande e conta sobre os planos ambiciosos. “Nós pretendemos abrir 35 novas operações entre bares e restaurantes pelo país, além de um crescimento de 60% em relação a 2022”, afirma Ávila.
Editorial e marketing
Para Manuela Bordasch, fundadora da plataforma de conteúdo de moda, beleza e lifestyle Steal the Look, as estratégias de conteúdo e marketing passarão a ter uma relevância ainda maior neste ano, tornando- se uma saída para muitos desafios que virão pela frente. “Acredito no potencial de uma reorganização de investimentos e otimização dos recursos, em que a estratégia de conteúdo e marketing de comunidade passam a ter uma relevância cada vez maior”, afirma Bordasch.
Marcio Esher, sócio e diretor de marketing e negócios da Holding Clube, grupo de empresas especializadas em live marketing, vê 2023 com grandes oportunidades para o seu negócio. Para ele, “2022 foi um ano de muito trabalho, dedicação e conquistas, voltado para dar aquela arrumada geral depois de uma forte tempestade. Com as empresas organizadas, as expectativas para 2023 não poderiam ser melhores, mas isso não quer dizer que o ano não será muito desafiador”, avalia.
Ele diz esperar um cenário novo na economia. Deverá haver uma redução na quantidade de eventos,, o que vai abrir oportunidades para preencher essas lacunas com diferentes formatos de ativações e entretenimento.
Vinícius Machado, CEO e fundador da Sotaq Creators, empresa de marketing de influência regional, afirma que em 2023 os influenciadores ganharão cada vez mais espaço nas campanhas e ações, junto da diversidade como um todo.
Financeiro
O setor financeiro vê um ano desafiador pela frente. Para Cláudio Vale, CEO da CVPAR Business Capital, o mercado deve lutar contra o aumento do índice de inadimplência, a mudança de governo e a incerteza com as contas públicas e baixo crescimento do PIB. “Nesse cenário os bancos restringem o acesso ao crédito para as empresas e estas por sua vez precisam recorrer aos FIDCs como forma alternativa de financiamento, gerando oportunidades para os fundos de crédito”, afirma Vale.
No ano, o grupo espera continuar se posicionando como um hub de negócios do Nordeste, além da aposta no lançamento da CV DTVM, passo importante na prestação de serviços financeiros da companhia.
Nathalia Arcuri, CEO e fundadora da Me Poupe!, também está com um grande lançamento marcado para este ano. “Em 2023, planejamos lançar o primeiro aplicativo da Me Poupe! de gestão financeira autônoma usando a inteligência artificial para aplicação do meu método exclusivo, reforçando e escalando a empresa e seu impacto social – uma ‘finpactech’“, afirma. “Esperamos democratizar e escalar a educação financeira, ajudando a população a se organizar financeiramente e a destravar o bloqueio que existe em relação às finanças.”
Moda
O ano de 2023 será de grandes desafios tendo em vista o cenário internacional, de pressão de custos de produção, inflação em alta e problemas com as cadeias de fornecimento.
Essa é a visão da CEO do Grupo Solvay, Daniela Manique. Segundo ela, a empresa continuará investindo em suas operações no Brasil – foram mais de R$ 600 milhões nos últimos quatro anos –, e no desenvolvimento de novos produtos químicos e têxteis sustentáveis. “Os lançamentos seguem as políticas ESG da companhia, para atender às necessidades dos clientes e de consumidores finais”, afirma Manique.
Já para Emily Ewell, CEO e co-fundadora da Pantys, primeira marca de calcinhas absorventes da América Latina, o fim de 2022 trouxe mais estabilidade para o comércio, tanto on-line quanto off-line, fazendo com que 2023 comece mais positivo. “Para o novo ano, a empresa visa um forte crescimento por meio uma maior diversificação de canais e sua expansão para o físico, que durante a pandemia ficou muito concentrada no e-commerce”, conta Ewell.
Sandra Chayo, sócia e diretora do Grupo Hope, afirma que a companhia espera crescer 10% com os lançamentos das coleções femininas e masculinas das marcas do grupo. “O plano de aceleração da expansão dos modelos de franquias de lojas híbridas Hope e Hope Resort e das lojas monomarcas HOPE Resort, vem com muita agressividade e oportunidades”, diz.
Para Dominique Oliver, fundador e CEO da Amaro, 2022 foi um ano estratégico para a empresa, com a introdução das entregas em até três horas. “Para o próximo ano, continuaremos focados e dando prioridade à omnicanalidade como uma alavanca importante para o consumo imediato”, afirma Oliver.
Saúde e bem-estar
O presidente da Cimed, João Adibe Marques, diz esperar continuar crescendo duas vezes mais que o mercado e pretende alavancar a categoria de vitaminas no Brasil, com investimento em educação sobre os benefícios da inclusão dos multivitamínicos no dia a dia – grande aposta da farmacêutica para o ano.
Para ele, existe grande potencial de amadurecimento da categoria no país, já que a população tem o hábito de buscar o curativo e não o preventivo. “Por isso, a Cimed vai trabalhar para mudar esse cenário e continuar seu propósito de promover saúde e bem estar para todos os brasileiros”, afirma.
Patricia Lima, fundadora e CEO da Simple Organic, espera encontrar um mercado muito receptivo em 2023. “Independentemente das movimentações, vemos que o setor de impacto positivo na sustentabilidade está se tornando cada vez mais uma prioridade para o consumidor”, avalia. “Nossas metas de crescimento são bastante agressivas, vão além da venda de um produto, mas buscam criar o futuro mais positivo e sustentável.”
Para Rochele Silveira, diretora administrativa do Kurotel, Centro de Bem-Estar e SPA Médico, a expectativa é de um crescimento de 10% nos negócios e um aumento de 3% de clientes estrangeiros em 2023. “O cenário pós-pandêmico se tornou positivo para o crescimento de negócios na área da saúde e bem-estar, com uma população mais preocupada em relação aos temas e buscando formas de investir nessas áreas para melhorar seu estilo de vida e envelhecimento, principalmente o público acima dos 40 anos e homens”, avalia.
Para 2023, as expectativas da companhia são altas, já que o mercado global de SPA médico atingiu um valor de quase US$ 13,7 bilhões em 2022, de acordo com a Expert Market Research. “Segundo este estudo, o Brasil é o país que mais cresce no mercado de spa médico considerando-se as regiões da América Latina, do Oriente Médio e da África, com expectativa de atingir 13,9% no período de 2018 a 2025”, afirma Silveira.
Setor imobiliário
Tatiana Muszkat, diretora institucional e marketing da You,inc, diz acreditar que a tendência do mercado para 2023 é que as negociações de compra e venda continuem crescendo e de forma exponencial. “O mercado imobiliário é um segmento bastante sólido no Brasil, principalmente quando falamos de imóveis residenciais”, conta Muszkat. “Estamos cautelosamente otimistas. Vamos aguardar as medidas que o novo governo irá tomar para o primeiro trimestre e decidir o que vamos planejar para 2023.”
Sustentabilidade
Para Juliana Schunck, CEO da Massfix, empresa líder em reciclagem de cacos de vidro, a expectativa para a agenda ambiental é muito otimista. “Confiamos que cada vez mais terá espaço e relevância no cenário mundial e que de maneira geral, os assuntos ESG estão vindo para ficar”, diz.
No entanto, há pontos que inspiram cautela, como as expectativas de alta dos juros e da inflação, além da imprevisibilidade no cenário internacional, em que a guerra pode afetar diretamente a cadeia logística e de energia.
“A Massfix confia no crescimento da reciclagem no país e aumentará sua capacidade produtiva com a construção de mais uma unidade fabril. Além disso, a companhia abrirá mais pátios logísticos visando contribuir com a logística reversa do vidro”, afirma Schunck.
Tecnologia
Para Ricardo Tavares, CEO da Biobots, empresa especializada na criação e desenvolvimento de produtos digitais como avatares, 2022 foi o ano da tecnologia. “Em 2022 a ideia de metaverso, Web3 e suas tendências começaram a vir à tona de maneira muito positiva, já que mesmo que sem muito conhecimento sobre os temas, avatares e NFTs passaram a fazer parte de discussões e estratégias de empresas e profissionais”, avalia Tavares.
O executivo diz acreditar que 2023 vem para dar início a materialização de muitos projetos da companhia e reforçar a importância da construção e gestão de comunidades sólidas dentro do metaverso. Ele espera um grande ano para o mercado relacionado a estes temas e para a Biobots.
Turismo
Fernando Vasconcelos, CEO do Grupo Kontik, também acredita que o setor tem grande potencial de crescimento em 2023. “A expectativa para o setor de turismo é de um crescimento de 53,6% em comparação a 2022, já inclusa a adesão de novos destinos que estão surgindo na cartela de viagens dos consumidores”, afirma.