Fonte: Diário do Comércio
As reduções das taxas de juros nas linhas de crédito para micro e pequenas empresas devem ser pesquisadas com atenção pelos empreendedores. Na hora da negociação, vale colocar na mesa as informações financeiras da companhia para uma melhor análise de risco, negociar outros produtos e serviços, como a conta-salário dos funcionários, e até obter aprovações de crédito em bancos diferentes para estimular a concorrência entre as instituições.
O movimento de corte nas taxas começou pelos bancos públicos e foi seguido timidamente pelos privados. Uma das críticas dos especialistas é que a maioria dos cortes ocorreu nas taxas mínimas, que costumam exigir não só tempo de relacionamento com o banco, mas também mais garantias das empresas (veja quadro ao lado). "De cada mil empresas que buscam as taxas mínimas, duas conseguem", afirma o professor de Sistema Financeiro Nacional da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão.
Para o analista da unidade de Inteligência de Mercado do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Luiz Ricardo Grecco, a maioria das micro e pequenas corporações utilizam mais o parcelamento de compras com o fornecedor, operação não contemplada pela queda das taxas de juros.
O empresário deve lançar mão de diversas ferramentas de negociação para buscar descontos nas linhas de capital de giro, pagamento de duplicatas e de cheques ou quando o limite da conta garantida forem necessários.
Segundo Paixão, quem tem suas informações financeiras organizadas e relacionamento com pelo menos três bancos pode obter a aprovação de crédito nas instituições para ter maior poder de negociação na hora de discutir as taxas de juros. "Quem usa pouco o crédito tem melhores condições de negociação", afirma.
Grecco, do Sebrae, orienta as companhias a mostrarem sua realidade financeira para que o banco faça a melhor avaliação do risco. Com a concorrência entre as instituições financeiras pelo segmento de pequenas empresas, é possível incluir na negociação por menores juros outros produtos e serviços oferecidos pelos bancos, como o financiamento da venda ao cliente, seguro patrimonial e conta-salário para funcionários. "São serviços nos quais é possível criar um relacionamento de ganha-ganha com os bancos", diz.
Na hora de escolher um banco, é preciso avaliar também os procedimentos burocráticos. Segundo Grecco, nem sempre a menor taxa de juros é mais importante. "Se houver mais burocracia, mais garantias e um limite menor, pode não ser interessante para algumas empresas", afirma.
O professor de finanças da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV), Samy Dana, diz que é preciso verificar, ainda, se o banco que oferece a menor taxa tem também o menor Custo Efetivo Total (CET). "É preciso por na ponta do lápis a taxa de abertura de crédito e o Imposto Sobre Operações Financeiras", diz.
Empresas têm alta dependência de bancos
As empresas brasileiras ainda têm grande dependência de bancos para se financiar, em vez de buscar recursos nos mercados de capitais internacionais, afirmou ontem a agência de classificação de risco Moodys.
Apesar de um modesto aumento na liquidez corporativa no ano passado, quando comparado aos Estados Unidos ou ao México, as companhias nacionais ainda dependem muito dos empréstimos bancários.
"Companhias no Brasil frequentemente dependem pesadamente de financiamento de bancos e instituições financeiras estatais, embora poucas empresas tenham contratado linhas bancárias de crédito", disse a Moodys em nota.
Para a agência, as empresas brasileiras estão expostas a riscos de liquidez diversos, inclusive possíveis interrupções na obtenção de crédito.
A Moodys concluiu que 59% das 39 companhias classificadas, com exceção de construtoras, possuem liquidez boa ou adequada, ante 81% das empresas no México.