Cristiane Perini Lucchesi Pela primeira pela primeira vez desde 2002, o mercado de câmbio no Brasil terá fluxo negativo de recursos. Essa é a previsão do Banco Central para 2009 divulgada ontem. Segundo a autoridade monetária, vão faltar um total de US$ 7,4 bilhões, que terão de ser vendidos pelos bancos brasileiros, reduzindo suas posições compradas. Neste ano, houve sobra de US$ 15,3 bilhões e no ano passado, nada menos do que US$ 89,3 bilhões. Além da retração no crédito comercial externo, vão ajudar no fluxo negativos a redução nos investimentos de portfólio, que vão cair de US$ 22 bilhões neste ano para US$ 15 bilhões em 2009, prevê o BC. O BNP Paribas está mais otimista do que o BC e acredita em equilíbrio e não déficit no câmbio à vista do balanço de pagamentos em 2009. Mas, segundo Alexandre Lintz, "a dinâmica no mercado mudou". Os números do BC reforçam sua tese de que as intervenções diárias da autoridade monetária comprando dólar à vista acabaram, e não apenas no curto prazo. "Eu acho isso positivo para o mercado de câmbio", afirma. A tendência de apreciação do real chegou ao fim, aposta. Foram as compras de US$ 158 bilhões no mercado à vista de câmbio pelo BC desde 2004, aliadas a uma emissão de US$ 46 bilhões em swaps cambiais reversos (o que equivale à compra de dólar no mercado futuro), que possibilitaram que as posições líquidas ativas do governo em dólar chegassem a US$ 175 bilhões, calcula ele. "Isso ajuda a reduzir de forma determinante os impactos da crise externa no país, pois toda a vez que o dólar sobe a dívida pública se reduz", diz. Por isso, ele acredita que a taxa de câmbio pode ir a US$ 1,90 ou até US$ 1,95 no curto prazo. Mas mantém sua projeção de R$ 1,65 para o final deste ano. Afinal, se o BC considerar que a volatilidade no câmbio está alta demais, pode deixar de rolar os swaps reversos, o que significaria venda líquida de dólar no mercado futuro. No início de outubro, há vencimento de US$ 2 bilhões, segundo o mercado informa. Octavio de Barros, diretor do Bradesco, também acredita que a tendência é de uma pequena desvalorização do real. Seus modelos mostram que o dólar de equilíbrio hoje seria de US$ 1,95. Ele está revisando suas projeções para o câmbio no final do ano para o nível de R$ 1,75, em relação aos R$ 1,65 anteriores, e para R$ 1,85 no final de 2009. "Precisamos ver como ficam os preços dos commodities", continua. Além da mudança no câmbio, a crise externa, ao conter o crédito, deverá fazer também com que o movimento de redução nos juros básicos pelo Banco Central comece mais cedo, acredita Octavio de Barros. Ele aposta em duas altas de 0,5 ponto percentual neste ano, mas acredita que o movimento de redução pode começar antes do que o previsto. "Eu achei que isso só aconteceria no final de 2009, mas agora estou revisando isso."