A uniformização do padrão contábil brasileiro já é uma realidade, e as empresas - em especial as de médio e grande portes - terão de dedicar mais tempo, mão de obra e recursos à adequação de suas demonstrações financeiras, a fim de obedecer a esse novo paradigma.
Enquanto alguns ainda se perguntam se as normas International Financial Reporting Standards (IFRS) terão efeito prático na qualidade das informações contábeis, outros acreditam que o uso de uma mesma linguagem trará benefícios aos negócios com o exterior.
Ambas as visões estão corretas, sendo também inegável que todo esse avanço terá um custo: a urgência do investimento em profissionais qualificados, intensivamente treinados para atender demandas diferenciadas em função das muitas mudanças previstas.
Os motivos que levaram o País a se adequar à padronização para elaborar suas demonstrações contábeis residem em vários fatores. Ao analisá-los individualmente tem-se uma ideia ampla dos desafios que deverão ser vencidos daqui por diante.
Dentre eles, se destacam:
· a necessidade de a estratégia de globalização em mercados e produtos ser acompanhada de internacionalização de atividades financeiras;
· a obtenção de maior acesso das empresas aos mais importantes mercados de capitais do mundo;
· a competição crescente por recursos limitados no mercado internacional;
· a necessidade de ampliar a base de acionistas para encontrar mais opções de investimentos e, ainda, de melhorar a imagem institucional e a oferta de produtos nos mercados financeiros.
A incorporação das normas dos International Financial Reporting Standards no Brasil, sem dúvida, teve um marco em 2007, quando a Metalúrgica Gerdau S.A. foi a primeira empresa nacional a adotar as regras contábeis, conforme estabelecido pelo International Accounting Standards Board (IASB).
Para isso, aplicou os aspectos estabelecidos nos IFRS 1 (First-time Adoption of International Financial Reporting Standards), considerando a data-base de 1º de janeiro de 2006 para seu balanço de abertura.
De uma forma geral, no entanto, a implantação das normas contábeis no Brasil, que é apoiada pelo governo e por entidades como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), vem cercada de muitas dúvidas. Em função disso, é pertinente estabelecer um guia rápido e objetivo sobre as diretrizes a serem adotadas.
A primeira fase para se aderir à Lei n. 11.638, de 2007, com a respectiva legislação complementar, é a elaboração, pelas empresas, de um estudo da convergência das demonstrações contábeis preparadas de acordo com as regras brasileiras até então vigentes e as diferenças que existem em relação às novas práticas a serem adotadas em escala global. Este estudo também deve ter por objetivo demonstrar a melhor forma de divulgar as demonstrações contábeis, ao apresentar as disparidades entre a legislação anterior e a atual, além de ajudar a administração da empresa a definir qual é a melhor data de transição.
Depois desta fase, com a administração já consciente dos desafios que virão pela frente, a empresa deve preparar um plano de ações que preveja a elaboração das demonstrações financeiras e notas explicativas conforme a Lei n. 11.638 de 2007 e a respectiva legislação contábil complementar, ou seja, as deliberações emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
Outros passos importantes são a introdução de controles e planilhas para a elaboração das demonstrações financeiras pelos International Financial Reporting Standards, bem como a atualização do estudo da convergência entre o trabalho realizado pela empresa nesse campo, de acordo com a legislação brasileira vigente até 31 de dezembro de 2007, para a nova legislação contábil, instituída pela Lei n. 11.638/07.
Igualmente recomendável para as empresas é a demonstração da metodologia de implantação desses ajustes, incluindo as memórias de cálculo, quando forem aplicáveis, e a implantação de modelos de controles auxiliares, sempre que necessário.
Em resumo, toda essa implantação pressupõe um diagnóstico amplo das diferenças existentes entre a contabilidade local e a dos International Financial Reporting Standards, o que implica a verificação quanto ao fato de os funcionários, auditores e consultores possuírem de fato conhecimento a respeito, e, em caso negativo, se têm a capacidade de absorver rapidamente esses novos conhecimentos, um processo de reflexão a partir do qual deve ser estabelecido um planejamento com metas e prazos bem definidos.
Mas o projeto como um todo só poderá ser bem-sucedido se os diversos departamentos trabalharem em consonância: da diretoria à equipe da área de finanças e da gerência aos consultores externos, passando, é claro, pelo pessoal de tecnologia da informação (TI), devendo todos estar plenamente envolvidos para que a convergência contábil seja bem-sucedida e para que a possibilidade de problemas futuros seja mínima.