Você já ouviu falar sobre ter propósito, certo? E já pensou no propósito da sua empresa prestadora de serviços contábeis? O propósito dela é calcular tributos? Cumprir obrigações? Gerar relatórios? Preparar a folha de pagamentos? Será mesmo?
Via de regra, vamos pautando nossa vida e nossas decisões em propósitos. Quando falamos, por exemplo, de um propósito de vida, estamos fazendo referência à intenção de alcançar uma vida plena e não simplesmente existir ou ficar na inércia, sem ação.
Do latim proposĭtum, o propósito aqui é um objetivo ou algo que se quer conseguir.
Para os negócios, propósitos definidos também são fundamentais para geração de resultados. Caso contrário, sua empresa pode ficar na inércia. Estes propósitos estarão, por exemplo, diretamente ligados à cultura e ao valor no escritório contábil. Além é claro, de pautar a liderança estratégica na contabilidade.
Paixão e propósito: já os encontrou?
Pois há alguns anos, Daniel Gulati, Oliver Segovia e John Coleman publicaram o livro Passion and Purpose. O livro apresenta, com base em uma pesquisa realizada com 500 alunos das principais escolas de negócios dos EUA, uma visão geral dos principais desafios e como líderes jovens lidam com essas questões.
Globalização, sustentabilidade, tecnologia, diversidade: são alguns dos temas abordados nas histórias contadas pelos autores. Em relatos de sucessos e contratempos, eles revelam como novas idéias, aspirações e práticas estão moldando negócios em todo o mundo.
O livro, claro, é interessantíssimo e serve de inspiração para empreendedores de todos os segmentos.
Visões equivocadas sobre o propósito
No entanto, o fato curioso aqui é o que, um dos autores, no caso John Coleman, comenta que, após a publicação do livro, passou a receber centenas de perguntas – de pessoas jovens e também mais experientes – sobre o tal propósito. Todos dizendo estar procurando o propósito. E se perguntando como encontrar o seu propósito.
Diante disso, o autor percebeu que as pessoas têm uma visão um tanto equivocada sobre o propósito. Em uma matéria publicada na Harvard Business Review, ele listou três equívocos – que certamente você já presenciou – sobre propósito.
O propósito de uma empresa não é vender seus produtos ou serviços. O propósito expressa como você faz diferença na vida das pessoas, dos seus clientes. O propósito da Disney não é entretenimento, é criar felicidade nas pessoas. Entretenimento é meio, não fim. Na prestação de serviços contábeis, calcular tributos, cumprir obrigações, gerar relatórios, processar folha, realizar auditorias não são propósitos! São meios de se alcançar algum propósito!
Assim como no meu caso, artigos, treinamentos, mentorias, palestras são meio para que eu consiga realizar meu propósito!
Considerar apenas as atividades meio faz com que nosso modelo mental (mind set) seja direcionado para o processo e não para o cliente. Isso, inevitavelmente, em qualquer mercado, gera um aumento da competição por preço.
Pense bem. Talvez seu propósito seja algo como:
- Zelar pelo patrimônio das famílias dos seus clientes
- Gerar credibilidade para as empresas de seus clientes
- Ajudar empreendedores a realizarem seus sonhos
Equívoco # 1: Propósito é uma coisa que você encontra
Você já assistiu o filme Lanterna Verde, com Ryan Reynolds? Aqui está um bom exemplo para ilustrar este equívoco. Hal Jordan, um vaidoso piloto de provas de avião, encontra (ou é encontrado por) seu propósito. Ele recebe um poderoso anel e é recrutado por um esquadrão intergaláctico chamado Lanterna Verde para lutar contra um feroz inimigo que ameaça acabar com o equilíbrio do Universo.
E existem muitas outras histórias assim no cinema. Mas isso é filme de Hollywood.
Na vida real, não esbarramos ou descobrimos nosso propósito no estalar dos dedos. O propósito é uma coisa que você constrói, não é uma coisa que você encontra. Afirma categoricamente o autor.
Claro que para alguns um propósito pode surgir de repente, mas isso é bem mais raro do que se costuma pensar. Por isso, certamente não podemos passar pela vida (lembra da inércia que falei lá em cima?) esperando até que o destino nos envie um chamado ou nos apresente nosso propósito.
Os propósitos da sua empresa são construídos, à medida em que você segmenta sua atuação e define sua proposta de valor do escritório contábil, não é mesmo?
Equívoco # 2: Propósito é uma coisa única
Este é o segundo equívoco citado pelo John. Acreditar que só se tem um propósito na vida. É claro que algumas pessoas realmente parecem ter um propósito esmagador em suas vidas. Madre Teresa viveu sua vida para servir os pobres. Michael Jordan se consagrou no basquete. Nelson Mandela como líder na África e no mundo.
Mas mesmo assim, essas pessoas certamente tiveram outras fontes de propósito em suas vidas. Por que os propósitos podem estar em todas as frentes nas quais atuamos. Como pais, mães, filhos, estudantes, cidadãos.
Talvez no âmbito profissional é onde conseguimos ter os propósitos mais claros. Mas para muitos o nosso trabalho não é central para um propósito, mas um meio para ajudar o alcance de outros. A maioria de nós terá múltiplas fontes de propósito em nossas vidas. Reconhecer isso é importante porque podemos encontrar vários pilares para dar significado às nossas ações.
Não é propósito, mas propósitos que estamos construindo. Devemos encontrar estas fontes de significado que nos ajudam a encontrar valor em nosso trabalho e vidas.
Porque eu publico semanalmente conteúdos para você contador, falando sobre tecnologia, marketing contábil, relacionamento e atendimento no escritório contábil? Por que a sua inovação é o meu propósito enquanto profissional. Então eu busco sempre direcionar minhas ações para atingir este propósito. O Workshop Contador 2.0 e os encontros de imersão internacional para desenvolvimento da gestão e liderança inovadora que promovi na Disney também são ações para corroborar meu propósito!
Equívoco # 3: O propósito não muda com o passar do tempo
Este equívoco acaba acontecendo muito em decorrência de acharmos que propósito é uma coisa que se encontra. Mas se estamos enquanto pessoas nos desenvolvendo e moldando à cada nova experiência, nossos propósitos também estão em construção e podem ser modificados. E neste sentido, propósitos podem ser ajustados, novos vão surgir e alguns podem até ser deixados de lado. E não há nada de errado nisso.
O autor fala que esta evolução em nossas fontes de propósito não representa falta de compromisso, por exemplo. É um fato natural e bom.
Como devemos encontrar propósitos em diferentes áreas, as fontes desse significado podem e mudam ao longo do tempo. Pense bem: seu foco e senso de propósito aos 20 anos certamente sofreram mudanças para o que são agora. E provavelmente serão diferentes daqui a mais 20 anos.
Até na vida profissional a mudança de propósito têm sido bem comum, algumas bem “drásticas” inclusive. Há pessoas que deixam carreiras consolidadas e mudam completamente de área.
E se nós mudamos propósitos profissionais, também experimentamos fases pessoais nas quais nossas fontes de significado mudam – infância, idade adulta, paternidade e ninho vazio, por exemplo. Nossas experiências nos moldam, nos fazem mudar de planos e a construir nossos propósitos.
Se você já perguntou como encontrar seu propósito, agora já sabe que esta não é a pergunta certa.
Lembre-se que você pode ter vários propósitos, que são construídos com o passar do tempo, e que podem mudar de acordo com suas novas experiências. Portanto, procure cercar tudo o que você fizer com um propósito, para de fato aproveitar todas as múltiplas fontes de significado que naturalmente vão se desenvolver para você. E esteja confortável em relação às mudanças, porque elas vão acontecer.