Uberização, mobilidade, Big Data, gamificação, internet das coisas, indústria 4.0. O que esses conceitos tão frequentes no mundo corporativo têm a ver com o universo dos escritórios contábeis?
Durante o 20º Congresso Brasileiro de Contabilidade, que ocorreu em Fortaleza de 11 a 14 de setembro, pude constatar que chegamos ao ponto de inflexão na curva de desenvolvimento dos negócios contábeis em que todos estes novos pensamentos têm convergido para uma transformação ainda mais profunda modelo de negócios deste setor.
Ao observar e analisar detalhadamente todos os expositores e prestar atenção a cada palavra dita pelas centenas de pessoas que me procuraram para trocar ideias sobre a evolução do setor contábil, alguns fatos ficaram evidentes. O principal deles é que, por mais que os escritórios se esforcem no sentido de melhorar a sua gestão, há uma significativa pressão pela redução de preços, acompanhada por uma enorme elevação dos custos.
Muitos, inclusive, chegaram a me relatar que estavam se desfazendo de bens pessoais para cobrir o caixa do escritório, dado o cenário atual, agravado pela inadimplência oriunda da crise que se instaurou em nosso país.
Em contrapartida, alguns poucos empreendedores da contabilidade esboçavam um largo sorriso, traduzindo os bons resultados de suas empresas. Estes, claramente, colhiam os frutos do investimento constante em inovação do seu modelo de negócios.
Na outra ponta, a maioria absoluta dos expositores foi formada por empresas do setor detecnologia da informação. Enquanto metade dos fornecedores de TI apresentavam soluções velhas para problemas igualmente velhos, a outra fatia trouxe inovações como nunca antes vistas em anos anteriores.
Era como uma competição de taxímetros mais modernos contra soluções de fato inovadoras como o aplicativo Uber. Nem é preciso dizer quem chamou mais atenção, né? Acredito mesmo que boa parte das empresas do primeiro grupo não estarão no próximo Congresso.
Mas o que está acontecendo neste ecossistema? Explico fazendo referência à mudança que todas as atividades econômicas estão sujeitas: a Quarta Onda da Revolução Industrial!
As primeiras ondas da Revolução Industrial
A primeira onda, no século XVIII, foi marcada pela mudança do processo produtivo artesanal pela linha de produção e pela mecanização do trabalho. O setor contábil também passou por essa transformação, mas em um tempo não tão distante.
Os escritórios adotaram máquinas mecânicas e criaram processos para escrituração de livros contábeis e fiscais. Ainda hoje é possível conhecer essas máquinas no Museu Brasileiro da Contabilidade mantido pelo Conselho Federal.
Com o aperfeiçoamento das máquinas e o uso da energia elétrica, a Segunda Onda surgiu nos Estados Unidos, ao final do século XIX. Máquinas mais sofisticadas e tecnologias de comunicação como telefone, telex e fax marcaram alguns avanços nas organizações contábeis brasileiras na década de 1980.
O surgimento da informática deu início à Terceira Onda da Revolução Industrial. Da mesma forma, os escritórios começaram a utilizar tais recursos a partir do final dos anos 80.
Grandes ganhos de produtividade se multiplicaram desde então. Técnicas industriais de controle da produção e programas de melhoria da qualidade passaram a ser largamente empregadas, o que fez muitas organizações contábeis conquistarem certificações ISO, seguindo os passos da indústria.
O mundo 4i
O dilema atual é que muita gente ainda não se deu conta de que estamos vivendo a Quarta Onda, que deu origem ao termo Industria 4.0 ou, simplesmente, 4i. Automação extrema, hiperconectividade, computação em nuvem e a internet das coisas mudaram radicalmente o perfil dos consumidores.
O tempo de espera deixou de ser medido em minutos. Alguns segundos já são suficientes para irritar qualquer um. Qualidade em produtos e serviços tornaram-se commodities e não é mais considerada ponto de vantagem competitiva.
A hiperinformação do consumidor e a ultracompeticão, por sua vez, criaram uma feroz concorrência por preços. Máquinas conectadas produzem informações e automatizam processos de forma inimaginável. E o cliente só consegue perceber valor em serviços que proporcionam uma experiência incrível e memorável.
Tecnologias disruptivas: o alicerce do Contador 4i
Essa já é a realidade que vivemos nas empresas (não mais escritórios) contábeis. Quem poderia conceber a ideia de um scanner que armazena os documentos em nuvem, classificando-os, organizando-os, e compartilhando-os automaticamente? E esta máquina “ïnteligente” e conectada ainda gerar o lançamento contábil? Esse é um (apenas um) dos usos da internet das coisas que começaram o movimento de disrupção neste mercado.
Aplicativos, obviamente em nuvem, que conectam fiscos, clientes, empresas contábeis, clientes dos clientes e fornecedores dos clientes utilizando os documentos fiscais digitais. E esses aplicativos ainda geram os lançamentos contábeis.
Contratos compartilhados entre as partes interessadas, assinados no próprio smartphone do signatário, com validade jurídica. E ainda com o fluxo de assinaturas e aprovações controlado automaticamente. E… não preciso mais guardá-los!
Sistemas de apoio à gestão, obviamente em nuvem, usando conceitos de videogames? Tudo para facilitar a vida do usuário (que não é mais usuário, é um cliente que quer umaexperiência incrível). E ainda geram os lançamentos contábeis!
Enfim, a Quarta Onda está causando uma gigantesca transformação neste mercado. Tanto fornecedores de “taxímetro” quanto os “taxistas” estão entrando em declínio acelerado. Por outro lado, há empreendedores inovadores criando (ou recriando) modelos de negócios contábeis de altíssimo desempenho e entregando valor a seus clientes.
A questão é: você já percebeu isso? Os seus clientes, posso garantir, já estão vivendo este novo cenário. E a única alternativa para sua empresa se manter competitiva é se adaptar a este novo e desafiador mundo do Contador 4i.
Roberto Dias Duarte, professor, mentor de empresas de tecnologia e presidente do Conselho de Administração da NTW Franquia Contábil.