Com a vinda de um grande número de investidores estrangeiros de venture capital para o Brasil, tenho notado que muitos deles buscam empresas nacionais com fundadores semelhantes àqueles típicos das "start-ups" de tecnologia do Vale do Silício -jovens com menos de 27 anos, garra e inteligência incomuns, em sua maioria com pouca experiência de trabalho, mas com uma vontade de revolucionar o mundo.
Fora do Brasil, a preferência pelos jovens empreendedores é clara. Investidores sabem que estes têm um apetite por grandes riscos que pode levá-los a desenvolver um produto revolucionário (que vai gerar, por consequência, grandes retornos financeiros).
Diferentemente de executivos com mais experiência e idade, esses jovens ainda não têm famílias formadas e podem dedicar 110% do seu tempo ao empreendimento. A falta de conhecimento e maturidade muitas vezes pode ser "emprestada" por mentores ou "comprada" por meio da contratação de executivos, ambos disponíveis em abundância no fértil ecossistema existente no Vale do Silício.
Já no Brasil, embora tenhamos alguns casos de sucesso de jovens empreendedores, como Romero Rodrigues, do Buscapé, e Marco Gomes, da Boo-Box, acredito que o modelo atingirá uma escala relevante seguindo um paradigma diferente.
Hoje, o ensino superior brasileiro na área de tecnologia é centrado em aspectos teóricos e possui uma estrutura bastante rígida.
Formamos profissionais capacitados para as demandas atuais e já existentes do mercado de tecnologia -aptos a trabalhar, por exemplo, em consultorias, bancos e no setor público-, mas não para inovar. Essa ausência de experiências práticas durante o ensino superior e de oportunidades mais amplas para criação deve limitar o numero de jovens empreendedores que despontarão nos próximos anos em nosso mercado.
Por outro lado, temos no Brasil de hoje uma enorme gama de oportunidade para novos negócios. Quem preencherá essa lacuna temporária no empreendedorismo nacional? Entendo que executivos experientes do mercado de tecnologia brasileira. Sim, aqueles mesmos que são superados por jovens empreendedores e suas "start-ups" do Vale do Silício (e que, a meu ver, um dia também serão superados pelos jovens empreendedores brasileiros).
Atualmente, temos excelentes profissionais que passaram boa parte da última década em grandes empresas de e-commerce, provedores de acesso à internet e portais de conteúdo. Sobreviveram à bolha e tiveram uma experiência de "start-ups" que gerou conhecimento de mercado e de tecnologia que os capacitou para estruturar as grandes empreitadas dos próximos cinco anos.
Mas por que ainda estamos vendo relativamente poucas empresas lançadas por executivos experientes do mercado de tecnologia?
Entendo que ainda estamos em fase de transição, na qual o risco percebido em começar uma "start-up" continua grande em comparação ao benefício do status quo.
Com a franca expansão da nossa economia, e do varejo on-line, esses executivos experientes têm se tornado profissionais cada vez mais escassos e ainda mais cobiçados pelo mercado, levando-os a chegar a níveis de remuneração nunca antes vistos (e quase o dobro de seus pares no exterior). Para o executivo, deixar uma situação vantajosa por um futuro incerto no mundo das "start-ups" é um tanto difícil, e isso gera um processo de transição lento, que tem retido uma migração em massa e mais acelerada.
Mas, embora a transição venha sendo lenta em razão de fatores criados pelo nosso concorrido mercado de trabalho, ela será inevitável nos próximos anos. O risco percebido em fazer a transição para uma "start-up" é muito maior do que o risco real. A oportunidade que há hoje na internet no Brasil é tanta, que a chance de sucesso de um profissional qualificado é enorme. À medida que mais casos de sucesso fiquem em evidência, mais desses profissionais apostarão em si mesmos e mergulharão de cabeça em novas oportunidades, criando a massa crítica de "start-ups" que fará o mercado brasileiro decolar.
Por outro lado, os que esperarem demais vão perder uma oportunidade única criada por esse período de transição que vivemos hoje.