Até em passado recente, a Contabilidade – como prática, disciplina e ciência – era conceituada como um instrumento metodológico de mero registro dos atos e fatos que compunham ou alteram os direitos, bens, obrigações ou o patrimônio das sociedades empresárias e outras instituições particulares ou públicas. Essa concepção era compartilhada por um público amplo, pois assim pensavam, inclusive, empresários, executivos, autoridades governamentais e até uma parcela ponderável dos próprios profissionais contábeis. Todavia era uma visão distorcida, carente de um olhar mais amplo e profundo.
A dinâmica do desenvolvimento econômico do país e sua maior inserção no panorama internacional, assim como o desenvolvimento técnico e cientifico da realidade brasileira contribuíram para a alteração desse cenário. Hoje a Contabilidade é reconhecida como a ciência que registra, estuda e analisa a dinâmica, as causas e tendências das variações quantitativas e qualitativas do patrimônio das entidades, submetendo-as a criticas de natureza econômico-financeira.
Vistas do ponto de vista estrutural, as Ciências Contábeis podem ser entendidas como tendo quatro grandes vertentes: o registro dos atos e fatos das entidades, a análise de segmentos ou do conjunto organizacional, a participação na gestão dos negócios das instituições e atividades especializadas, estas desenvolvidas por especialistas que devem ter habilidades, conhecimentos e experiência adequados.
No primeiro caso está a atividade tradicional da Contabilidade, relacionada com os registros de todos os fatos que ocorrem na empresa e que podem ser representados em valor monetário; organização de um sistema de controles internos adequado às condições concretas da entidade; elaboração dos demonstrativos periódicos (balanços patrimoniais, demonstrativos de resultados, de mutações patrimoniais e de valor agregado, fluxos de caixa etc.) sobre a situação econômica, patrimonial e financeira das entidades. No segundo, os contabilistas realizam análises dos demonstrativos, com a finalidade de apuração dos resultados obtidos e evidenciar as tendências do comportamento futuro, inclusive as análises de desempenho, cálculo do ponto de equilíbrio, determinação de preços de vendas, planejamento tributário etc.
Quanto à função gestão empresarial, os profissionais contábeis elaboram e acompanham os planos econômicos das sociedades, praticando a contabilidade gerencial (management accounting). Aqui se enquadram as funções de planejamento estratégico, orçamentos empresariais, controle de custos, logística integrada, processos de geração dos lucros, medida da eficácia e controladoria. A controladoria faz uso dos controles internos da sociedade e dos processos de planejamento estratégico e orçamentário, bem como da contabilidade de custos, como meio para se obter melhores resultados operacionais.
Por último, têm-se as atividades especializadas: a Auditoria e a Perícia Contábeis. A auditoria contábil tem por objetivo aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuários e tem duas ramificações: a) a Auditoria Externa, que é realizada mediante o uso de um conjunto de procedimentos técnicos metodologicamente estruturados, com a finalidade de manifestar a opinião de Auditores Independentes sobre a adequação dos controles internos e a veracidade dos valores apresentados no conjunto das demonstrações contábeis de uma entidade; e b) a Auditoria Interna, que efetua levantamentos e comprovações dos controles internos, objetivando agregar valor ao resultado da organização, apresentando subsídios para o aperfeiçoamento dos seus processos. Por sua vez, a Perícia Contábil constitui o conjunto de procedimentos destinados a evidenciar provas em processos de litígio – em conformidade com as normas jurídicas e profissionais e a legislação específica –, mediante a elaboração de laudo ou parecer periciais contábeis.
Qualquer que seja a prática contábil exercida pelo contabilista, sempre será uma função que espelha ou se reflete em um universo mais amplo, o mundo dos negócios. Assim, há outro fenômeno a considerar: a economia e o mercado globalizados. Nessa equação, nenhuma nação, nenhuma empresa é um fator isolado, todas são elementos de um mesmo problema. Por isso é que a contabilidade há que se expressar em uma mesma linguagem, tem que ser uma ciência que usa os mesmos paradigmas e apresenta uma mesma resposta para situações similares.
È nesse contexto que se insere a Contabilidade Avançada, quer como disciplina teórica integrante do currículo dos cursos de Ciências Contábeis, que como elemento de prática do exercício profissional dos contabilistas, seguindo os preceitos da “Diretiva para a elaboração de um programa mundial de estudos de contabilidade e outras normas e requisitos de qualificação - TD 5” e do “Plano de estudo mundial para a formação de profissionais contábeis - TD 6”, editados pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento- UNCTAD.