O movimento pela inovação vem ganhando cada dia mais força no país seguindo a tendência já observada nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Em agosto deste ano trinta empresários e presidentes de empresas brasileiras lançaram um Manisfesto Empresarial pela Inovação, cuja principal meta é duplicar o investimento privado em inovação nos próximos três anos. Para muitos, o movimento pela inovação segue a mesma trilha do movimento pela qualidade deflagrado no início dos anos noventa e que desde então vem influenciando as práticas de gestão das empresas brasileiras.
Quem for estudar mais sobre inovação vai se deparar com as estórias de Bill Gates e sua gigante Microsoft, Steve Jobs e a charmosa Apple, Richard Branson e a arrojada Virgin, entre tantas outras. O que há de comum entre elas? É simples: o empreendedor, o investidor, o inovador e o principal executivo, todas estes papéis estão numa mesma pessoa. Então parece fácil inovar, o que não é verdade para a maioria das empresas em que estes papéis não estão numa única pessoa e daí começam os desafios. Quem se lança na inovação vai em geral assumir riscos e trabalhar com 80% de incertezas ("premissas") e 20% de certezas, ao contrário de quem trabalha com qualidade ou orçamento em que 80% do mundo é mais ou menos previsível, inclusive com ajuda de números. Inovação é diferente de benchmarking, apesar de que o inovador está sempre em busca de inspiração em outras empresas inovadoras. Inovação também não é sinônimo de tecnologia, ainda que às vezes o Minisitério da Ciência e Tecnologia e as universidades brasileiras associem inovação com mais tecnologia. O que de verdade importa na inovação é o valor, a relevância, o significado para quem está sendo beneficado com ela, nós consumidores ou as empresas. Para inovar algumas organizações se abrem inclusive para fora dos muros da empresa (clientes, clientes dos clientes, parceiros, fornecedores) com diálogo, transparência e acesso, é o que chamamos de co-criação de valor, que poderá ser viabilizada por novos produtos, serviços ou experiências únicas para os indivíduos, para as empresas.
Inovação também tem a ver com novas mentalidades (ou modelos mentais), novas formas de enxergar um problema e o mais curioso, às vezes redefinimos o problema, pois o problema é muitas vezes uma forma distorcida de entender a realidade de acordo com a mentalidade de cada um. Então quem deveríamos trazer para a inovação? O movimento, o manifesto pela inovação vem trazendo de maneira vertiginosa para o mundo dos negócios pessoas dos mais diversos campos profissionais. Edward de Bono, em seu livro "Os 6 chapéus do pensamento", argumenta que uma mesma situação ou desafio pode ser explorado utilizando 6 diferentes perspectivas. Na inovação não é diferente, dependendo do tipo de profissional com quem vamos trabalhar a inovação teremos um determinado viés na hora de inovar: engenheiros de produto vão puxar a inovação para a perspectiva do design, da tecnologia; especialistas em qualidade, para a perspectiva da melhoria contínua, do processo, dos indicadores; "marketeiros", para a marca ou para o comportamento do consumidor; estrategistas, para a estratégia e para novos modelos de negócio; o pessoal recursos humanos, para a motivação e engajamento das pessoas; os profissionais de vendas ou da área comercial, para o relacionamento com os clientes; os profissionais de tecnologia, para mais tecnologia; os profissionais financeiros e advogados, para os incentivos fiscais e/ou formas de captação de recursos financeiros para inovação; os especialistas em logística e suprimentos, para inovação na cadeia de suprimentos; os profissionais da gestão do conhecimento, para os portais corporativos de compartilhamento do conhecimento para inovação; o pessoal de novos negócios, para oportunidades em novos negócios.
Ora, com quem então devemos inovar? O ideal para inovação é combinar de maneira holística o maior número de backgrounds e expertises profissionais em um movimento abrangente, harmônico e consistente de resignificação do valor para todas as partes interessadas. Algumas pessoas costumam chamar este movimento de busca pela sustentabilidade ou de uma evolução do próprio conceito de qualidade.