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Origem da expressão Contabilidade

O termo Contabilidade, hoje tão sólido e reconhecido em nosso idioma é, todavia, muito antigo; não existem provas inequívocas da data de aparecimento do referido, mas, hipóteses podem ser formuladas.

O termo Contabilidade, hoje tão sólido e reconhecido em nosso idioma é, todavia, muito antigo; não existem provas inequívocas da data de aparecimento do referido, mas, hipóteses podem ser formuladas.

 A História registra palavras, cada uma em cada idioma, com o pertinente respeito à visão etimológica, mas, para nós, em português, o conceito sobre esse conhecimento específico parece ter proveniência de uso da expressão na península Ibérica há mais de meio milênio.

Logicamente cada povo, nos 6.000 anos de história da disciplina teve a própria forma de conceituar; tão relevante foi a influência dos “escribas” sumerianos que a escrita contábil gerou a “escrita comum”, segundo atestam pesquisadores e estudiosos como Goody

A Suméria era uma região rica, de comércio intenso, abrigando profissionais que se dedicavam a escriturar os fatos havidos nos templos, palácios, lavouras, comercio e na indústria; inclusive, segundo descobertas arqueológicas, existiram escolas de escrituração contábilNa referida região os profissionais possuíam uma denominação específica e que no idioma deles se expressava por «Pa-dub-dar» para os Contadores e «dub-sar» para os auxiliares de escrita ou técnicos em registros contábeis.

Já naquela remota época eram distintas as funções entre simplesmente escrever e entender os registros.

Logicamente, não havia a expressão Contabilidade, no sentido que hoje empregamos, nem a de Contador (tais conceitos mesclavam os de aconselhamento e sabedoria, em alto nível, como se comprovou pela arqueologia, em relação ao Egito aonde os contadores pertenceram à alta classe dos sacerdotes).

O mesmo foi ocorrendo ao longo do tempo, inclusive nas civilizações clássicas como Grécia e Roma.

Tudo indica, portanto, que se ligavam as expressões referidas não só ao fato de “registrar” ou “escrever”, mas de ”aconselhar” e “raciocinar”(o contador Akai, ao qual se dedicou uma estátua cujo exemplar está em Paris, no Louvre, foi inclusive embaixador de faraós).

O conhecimento de escriturar foi uma especialidade tão respeitada e destacada nas sociedades antigas que segundo se comprovou por registros e referências era a maior no serviço público da Roma.

Alguns estudiosos de etimologia, entretanto, admitem que a expressão Contabilidade, em português, provém do francês «Comptabilité».

Seria o termo, pois, um galicismo, segundo tal hipótese.

Sobre isto, entretanto, tenho profundas dúvidas e não disponho de provas convincentes, históricas, que possam alimentar a tese da origem referida.

As obras francesas dos primeiros anos do século XVII, não inserem a expressão “Comptabilité”, mas se referem apenas à forma de escriturar, ou seja, de “manter livros”.

O mais famoso autor francês do século XVII, protegido de Colbert, o contador Claude Irson, em sua obra de 1678 escolheu como titulo de seu livro : “Método de bem conduzir todas as sortes de contas em partida dobrada...”.

O destaque era sempre para as “contas”, estas que sempre tiveram importância destacada ao longo da história.

As denominações: Contador, Contabilidade, não se utilizaram no idioma francês, tanto nos séculos XVII como XVIII, nos livros mais famosos da literatura técnica (onde se empregava a expressão Guarda Livros como preferencial - «Teneur des livres»).

Pelos estudos e pesquisas que realizamos entendemos que as origens do termo Contabilidade e Contador, mais provavelmente tiveram berço Ibérico.

Em 2 de Novembro, de 1437, em 30 de Novembro de 1442, o Rei Dom João II, de Espanha, emitiu Ordenanças onde se lê as expressões: «Contadoria» e «Contadores».

O texto real é claro: «Yo El Rey fago saber á vos los mis Contadores mayores......».

O primeiro profissional nomeado para o Brasil, especificamente como “Contador da Casa Real”, foi Gaspar Lamego, em 05 de Janeiro de 1549, por carta de rei Dom João III, quando do governo geral do militar e político lusitano Tomé de Souza; naquela ocasião já era empregado o termo “Contador”.

Na mesma época e com a classificação de Guarda Livros das casas da Fazenda, Contos e Alfândega, foi nomeado Bastião de Almeida, fazendo, no caso distinção funcional.

Tão distintos eram os conceitos de Contas e de Contadores, logo de Contabilidade também, que em 10 de julho de 1554, o Imperador Carlos, de Espanha, editou outra Ordenança, já empregando as expressões «Contadores de Contas», «Contadoria Geral da Fazenda», «Contadores Principais» e «oficiais da Contadoria».

Tais termos consagrados na Espanha, com provas históricas desde 1437, não permitem dúvidas quanto ao seu uso; derivações naturais foram depois surgindo (uma delas além das apresentadas é a de Tribunal da Contadoria e que já surge no século XVI e se consubstancia em ordenança em 1602, referindo também a três classes de Contadores).

Pelo emprego das palavras, pelas provas que possuímos em decorrência de pesquisas, somos induzidos a crer que tudo parece contribuir para aceitar-se a origem da expressão Contabilidade como Ibérica, existente, segundo as provas induzem a crer, provavelmente desde o século XIV.

O termo “conta” se encontra frequentemente já referido em um “Tratado da Arte da Seda em Florença”, escrito no século XV, inclusive oferecendo tecnologia de custos realizados pelo processo das partidas dobradas (vários exemplos mencionam a data de 1453), contendo referências a Tratados sobre o mesmo tema, relativo ao século XIII (de 1225 a 1327).

Tais indícios, mesmo sem gerar provas, induzem a crer que a expressão Contabilidade aferrou-se à de “Conta” e que essas já estavam como tal consagradas no idioma latino.

*Autor: Antônio Lopes de Sá

www.lopesdesa.com.br

Contato: lopessa.bhz@terra.com.br

 

 

Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente.

 

 

 

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