*André Charone Tavares Lopes 1.1 – CONCEITOS GERAIS 1.2 De modo a se realizar uma análise melhor fundamentada acerca das perspectivas da profissão contábil no Brasil, primeiramente será realizada uma breve explanação sobre a evolução das ciências contábeis no país. Esta primeira parte do trabalho é fundamental para que se tenha entendimento sobre a atual situação dos contabilistas no Brasil, o que, por sua vez, é um pré-requisito para que se possa falar sobre o futuro do profissional contábil. 1.2 – O SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE Os historiadores remetem a cerca de 8.000 a. C. os primeiros sinais, ainda que primitivos, de registros contábeis. Através de instrumentos rudimentares, como fichas de barro ou pedras, o homem primitivo utilizava vultos empíricos da contabilidade para registrar e, até mesmo, controlar o seu patrimônio. A contabilidade passou a evoluir de acordo com o próprio desenvolvimento social, cultural e econômico. No período do Renascimento Cultural, momento em que a Europa borbulhava cultural e cientificamente, surge a figura do Frei Luca Bartolomeo de Pacioli, um dos mais brilhantes estudiosos da época e que, apesar de não ter se tornado tão popular quanto seu contemporâneo Leonardo da Vinci, consagrou-se como uma das maiores mentes de seu tempo e tornou-se conhecido como “pai da contabilidade”. Título este lhe concedido pela sua publicação do Tratactus de computis et Scripturis em sua obra Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornalitá, primeiro registro conhecido do método das partidas dobradas. A obra de Luca Pacioli marcou o primeiro passo da contabilidade rumo à produção científica. No entanto, somente no século XIX é que a contabilidade se consolidou de fato como ciência, conquista esta que podemos agradecer a nomes como Francisco Villa, da Escola Lombarda, Guisepe Cerboni, da Escola Toscana, e Fábio Besta, da Escola Veneziana. Por não ser este o objetivo, este trabalho não irá se aprofundar em suas obras e nem julgar os méritos de cada uma das escolas, destaca-se, no entanto, que este período foi de fundamental importância para o desenvolvimento das teorias contábeis. Chegando à história recente, percebe-se mais do que nunca a importância da contabilidade e das informações geradas pela mesma. Nos últimos séculos houve uma evolução magnífica das técnicas contábeis: O surgimento da Auditoria, o desenvolvimento da contabilidade de custos, e o aumento da importância da contabilidade como ferramenta gerencial são algumas das inovações surgidas nestes tempos, como regra, trazidas pela propagação da Escola Americana. 1.3 – OS PROFISSIONAIS CONTÁBEIS NO BRASIL Existe ainda uma certa divergência nos relatos históricos da chegada dos profissionais contábeis no Brasil, entende-se, no entanto, que esta foi uma das primeiras profissões a abordar no país. São nos últimos anos, entretanto, que a profissão tem ganhado destaque no cenário brasileiro. Até a década de 1960, os profissionais contábeis no Brasil eram ainda conhecidos como “guarda-livros”, expressão que se tornou obsoleta com o milagre econômico de 1970, trazendo uma grande aceleração da economia e, conseqüentemente, aumentando o reconhecimento da profissão contábil. A situação brasileira neste período só vem confirmar algo já percebido durante toda a história da contabilidade: À medida que a economia e as atividades empresariais se desenvolve, as ciências contábeis evoluem de igual modo. Ocorre que, apesar das evoluções presenciadas nas últimas décadas, a qualidade da maioria dos profissionais contábeis brasileiros ainda está, infelizmente, inferior àquela exigida pelo mercado, especialmente em nível gerencial. Embora a contabilidade fiscal brasileira esteja entre as mais normatizadas e, até mesmo, desenvolvidas do mundo, a contabilidade gerencial (ou seja, aquela voltada à geração de informações para o usuário interno) ainda encontra-se em fase de amadurecimento. 2 – PERSPECTIVAS DA CONTABILIDADE E DA PROFISSÃO CONTÁBIL NO BRASIL 2.1 – CAMPO DE ATUAÇÃO Como já fora explanado anteriormente, a importância da contabilidade varia proporcionalmente ao desenvolvimento econômico. Deste modo, as informações contábeis são muito mais valorizadas em países desenvolvidos. O Brasil, como um país em desenvolvimento, possui um amplo campo de atuação para os profissionais de contabilidade, o qual tende a permanecer em expansão, com o crescente número e proporção dos empreendimentos brasileiros. Para se ter uma noção de quão vasto é o mercado de trabalho para o profissional de contabilidade no Brasil, estudos apontam a existência de apenas 150.000 contadores registrados para um universo de 4,5 milhões de empresas. Existe uma escassez de profissionais com conhecimentos na área financeira, em especial no que diz respeitos à geração de informações para a tomada de decisões, o que proporciona aos contabilistas especialistas e capacitados neste segmento um mercado com excelentes remunerações e reconhecimento profissional. O mercado de trabalho do contabilista não se restringe a grandes empreendimentos. Medidas governamentais de apoio aos pequenos empreendimentos, tais como o Simples Nacional e a parceira entre o CFC e SEBRAE com o “Contabilizando o Sucesso”, geram ainda excelentes oportunidades aos contabilistas que optam por atuar no nicho de mercado das micro e pequenas empresas. 2.2 – EXPECTATIVAS DA PROFISSÃO CONTÁBIL NO BRASIL O desenvolvimento econômico, acompanhado da evolução tecno-informacional, cria novas expectativas dos usuários em relação à profissão contábil. A aceleração da velocidade com que os dados são processados e a convergência entre a economia, sociedade e os usuários da contabilidade faz com que o profissional contábil precise alterar o seu perfil, deixando de ser responsável apenas por manter a escrituração em ordem (técnica que está em constante processo de automação) e passe assumir o papel de prestador de informações. Para tal, o profissional precisa estar cada vez mais preparado e especializado. Neste sentido, é importante que os cursos de graduação preparem os seus alunos para este novo mercado de trabalho, assim como é necessário que se invista e incentive a pós-graduação destes alunos. Sobre isso, CARVALHO (2002, p.10) em sua dissertação de mestrado, comenta que: O fim do curso de graduação, por si só, não garante o sucesso profissional. Muito pelo contrário, é o início de uma longa caminhada, que tem como pressuposto básico a educação continuada. Afinal as empresas estão procurando profissionais cada vez mais especializados, que possuam uma visão generalista e sejam capazes de conectar fatos, acontecimentos em várias áreas e ajudar as empresas na consecução dos seus objetivos. Na grande maioria das instituições de ensino superior, muito pouco se discute sobre a teoria da contabilidade e as suas implicações na prática profissional, gerando muitas vezes profissionais sem qualquer conhecimento doutrinário, inundados de conhecimentos puramente técnicos. É preciso que se invista em pesquisa contábil, no sentido de manter e atualizar, não só o corpo docente das instituições de ensino superior, mas também os contabilistas em atuação na prática profissional. 2.3 – ÁREAS DE ATUAÇÃO A profissão do contabilista é regulamentada pelo Decreto-lei nº 9295/46 de 27 de maio de 1946 e resoluções complementares, dispondo sobre as prerrogativas profissionais, e sendo especificado pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 560 de 28 de outubro de 1983: Art. 1º - O exercício das atividades compreendidas na contabilidade, considerada estar em sua plena amplitude e condição de Ciência Aplicada, constitui prerrogativa, sem exceção, dos contadores e dos técnicos em contabilidade legalmente habilitados, ressalvadas as atribuições privativas dos contadores. Art. 2º - o contabilista pode exercer as suas atividades na condição de profissional liberal ou autônomo, de empregado regido pela CLT, de servidor público, de militar, de sócio de qualquer tipo de sociedade, de diretor ou de conselheiro de quaisquer entidades, ou, em qualquer outra situação jurídica, definida pela legislação, exercendo qualquer tipo de função (...). Pelo que se percebe nos artigos acima transcritos, cabe exclusivamente aos contabilistas habilitados a prática de todas as atividades compreendidas na contabilidade, podendo este ainda ser profissional liberal, empregado regido pela CLT, servidor público, militar, sócio de qualquer tipo de sociedade, diretor ou conselheiro de quaisquer entidades. Cabe ao profissional da contabilidade, através de suas habilidades pessoais, identificar qual o ramo de atuação que deseja atuar. Para tal, o profissional precisa possuir habilidades e se especializar naquilo em que pretende trabalhar. BIBLIOGRAFIA CARVALHO, Joana D´Arc Silva Galvão de. O perfil profissional do contador ingresso no mercado de trabalho no município de Salvador-Ba de 1991 a 2000. Salvador: FVC, 2002. Dissertação (Mestrado em Contabilidade), Centro de Pós-Graduação e Pesquisa Visconde de Cairú – CEPPEV, Fundação Visconde de Cairú, 2002. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Legislação da Profissão Contábil. Brasília: CFC, 2003 MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. _____. Preparando-se para a profissão do futuro. Revista Contabilidade Vista e Revista, Rio de Janeiro: vol. 9, n° 01, março/98. *SOBRE O AUTOR: Estudante de 6º semestre de Ciências Contábeis da Faculdade Ideal, Sócio do escritório Belconta - Belém Contabilidade S/S Ltda, Autor de diversos artigos na área contábil, empresarial e educacional, membro da Associação Científica Internacional Neopatrimonialista - ACIN.